Mudando o trilho da minha carreira

Jessica Chaves
4 min readJun 28, 2021

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Há mais de dois anos mudei o trilho da minha carreira de desenvolvimento para gestão e quero compartilhar alguns aprendizados dessa mudança.

trilhos de trem
Cruzamento de duas linhas férreas.

Quando essa mudança aconteceu, demorou um pouquinho para cair a ficha, mas logo percebi que o trem da minha carreira estava seguindo por outro trilho, esse é o sentimento quando falo sobre “mudar o trilho da minha carreira de desenvolvimento para gestão”.

Enquanto desenvolvedora de software um dos momentos mais satisfatórios do meu dia era poder compartilhar o progresso do desenvolvimento que eu era responsável nas dailies com meu time.
Escrever códigos com ótima qualidade era meu principal objetivo e quando o código não compilava ou o teste não passava, eu ficava horas ou até dias para encontrar a solução e seguir com aquele desenvolvimento.

Para tudo isso funcionar bem era fundamental a escolha de uma boa playlist, conseguir organizar meu tempo para ajudar e pedir ajuda para a galera e participar de reuniões com o time para refinar as próximas histórias.

Um dos momentos que mais me traziam adrenalina era corrigir problemas de produção, imaginando quantas pessoas seriam impactadas e estariam insatisfeitas de alguma forma por conta daquele trecho de código defeituoso que elas nem poderiam imaginar que existia.

Eu atuava no setor da saúde e uma falha no produto poderia atrasar a realização de uma cirurgia por falta de materiais, eram vidas num centro cirúrgico sendo impactadas pela espera de um material que era liberado pelo código que eu desenvolvia.

Eu, apresentando um tech talk para o time de tecnologia na Bionexo.

Nesta época, eu sempre achei que ser gestora de pessoas era apenas participar de reuniões o dia todo, sem muitas preocupações, ouvir várias coisas importantes que deveria acompanhar ou apenas concordar, mas isso é uma grande ilusão.

Aliás, é verdade que participamos de muitas reuniões e algumas vezes são essas reuniões parte de nossos grandes entregáveis. Esta foi uma das minhas grandes mudanças de pensamento ao me tornar gestora.

Enquanto desenvolvedora, eu entregava código, mas agora meus entregáveis também são as reuniões que participo, pois elas podem impactar o produto, software ou principalmente as pessoas do meu próprio time.

Hoje, como gestora de pessoas em um time de desenvolvimento de software, chego a conclusão que os grandes pilares que eu preciso acompanhar são as pessoas, o software e o produto.
Dos três o que é mais importante para mim são as pessoas.

Ah lá, já vai começar com aquele papo de liderança humanizada?!

A ideia não é encher o texto de buzzwords, mas é importante deixar claro que para mim:

Pessoas

felizes, engajadas, recebendo bons salários e trabalhando com propósito

construirão

Softwares

escaláveis, confiáveis e seguros

criando

Produtos

que agreguem cada vez mais valor para os usuários.

Pessoas são a base de tudo, todo resto é consequência.

Hoje um dos meus principais deveres é cuidar das pessoas (ou melhor das minhas pessoas, sem possessão, mas me importando com elas).

Nas dailies, ao invés de me preocupar apenas com o andamento das entregas é preciso perceber quando alguém não esta bem, é ser eu mesma, mostrando e demonstrando minhas fraquezas.

Nos 1:1s, aproveitar o momento para conhecer de fato a pessoa, quantas histórias boas eu já ouvi, quantas trocas já foram realizadas, é ser amiga, às vezes psicóloga e outras vezes gestora.

É de fato importar-se com a opinião e buscar com que todas as pessoas entreguem o seu melhor a cada encontro, e quando não conseguirem, entender que está tudo bem também, ninguém precisa ser 100% participativa a todo tempo.
Essa sensibilidade só é possível ter, de fato, quando conhecemos as pessoas que lideramos.

Mas nem tudo são flores…

Ser gestora de pessoas também é perder noites de sono porque não sabe se vai conseguir entregar um projeto, mas no dia a dia mostrar para seu time de que estamos no caminho certo ou se realmente não acreditamos mais naquele caminho, demonstrar o receio (lembra que comentei de mostrar e demonstrar fraquezas?) e fazer o convite de pensarmos juntos em um nova estratégia.

É também ficar elaborando qual vai ser a melhor dinâmica para a próxima retrospectiva, entendendo o contexto atual do time, pensando individualmente no perfil de cada pessoa para garantir um ambiente verdadeiramente seguro.

É se preparar para entregar feedbacks bons, mas principalmente para feedbacks duros e difíceis, com muita empatia e sensibilidade, pois sou corresponsável no desenvolvimento de cada pessoa e essa é uma das ferramentas mais preciosas para a gestão de pessoas.

É sobre acompanhar as evoluções após um feedback direcionador, auxiliar na construção e manutenção do plano de desenvolvimento de cada pessoa, e verdadeiramente se importar pessoalmente.

E após toda essa mudança…

Sim, meu pensamento mudou, e durante minha evolução por muitas vezes entrei em conflito comigo, sobre entender o verdadeiro papel de uma pessoa gestora, e que a mudança de trilho ainda permite que eu continue evoluindo tecnicamente, mas de fato o mais importante é que eu continue evoluindo em técnicas para gerir pessoas (sim, é possível estudar liderança, mas este é papo para outro artigo, rs).

Me manter atualizada tecnicamente é importante, mas deixar as pessoas desenvolvedoras ainda mais empoderadas para tomar as decisões, é melhor ainda e isso só será possível com boas habilidades de gestão.

Eu escolhi escrever sobre esses pontos após compreender que estes são pontos comuns por pessoas que mudaram o trilho de suas carreiras.

Compartilhar uma parte de minha história e saber que ela pode ajudar outras pessoas a se encontrarem em suas jornadas é motivador e me deixa muito feliz.

Se identificou e quer conversar mais sobre isso?
Não concorda e quer dividir seu ponto de vista?
Bora trocar experiências e aprender juntos.

Até um próximo artigo, obrigada. :)

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Jessica Chaves

Eu curto muito ler e escrever sobre gestão para equipes de desenvolvimento de software.